“Não é verdade que não tinha nada, eu tinha o rádio ligado” – Marilyn Monroe, mito do cinema, 1926-1962
Bem antes do 25 de abril, subi no meu Fiat 600 ao Alto do Lagoal, em Caxias, para ver onde morava Francisco Igrejas Caeiro, de que só conhecia a fama – e que silêncio, que vista sobre o Tejo, que casa, que sítio fabuloso! Estava então longe de imaginar que visitaria um dia a moradia – projetada pelo arquiteto Keil do Amaral – e o proprietário.
Isso aconteceria largos anos depois, já com boa parte do pequeno monte a encher-se de um casario de gosto duvidoso, quando aplanámos velhas divergências dos tempos da Emissora Nacional/RDP, em que a politiquice e a estupidez quase acabaram com a amizade entretanto construída. Mea culpa, Francisco.
Igrejas Caeiro era tudo: um homem sedutor, um comunicador magnífico, um empreendedor bem sucedido, uma figura do espectáculo carismática e popular, um vencedor. Perseguido pelo Estado Novo e impedido de trabalhar, teve a seguir à revolução um problema: era mais conhecido que os candidatos à ribalta. Como não precisava da política para viver, ultrapassou, com otimismo, todas as invejas e todas as calúnias.
Afinal, só o seu fim seria triste, da doença de Alzheimer que o minou – morreu em 2012, aos 94 anos – à falta de descendência que o fez legar a casa do Alto do Lagoal à Fundação Marquês de Pombal, para que fosse transformada em museu da rádio. Mas alega agora a Câmara de Oeiras, que tutela a fundação, que terá de destinar parte do edifício ao alojamento local para assim financiar a manutenção do espólio. Enfim, dessa polémica estás livre. Fica em paz, meu querido.
Parece que foi ontem, Sábado, 5ABR18
Igrejas Caeiro não merecia isto
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