Em fevereiro de 2007, estava Carlos Lopes a completar 60 anos, a SÁBADO fez-lhe uma entrevista de vida que ficou marcada pelas lamúrias do campeoníssimo. De João Rocha a Moniz Pereira, passando por Fernando Mamede – o ex-amigo a quem nunca perdoou a grave ofensa da frase “se a minha avó não morresse ainda hoje era viva” – Lopes não se poupou nas críticas.
Compreendi-o na altura. Afinal, o atleta que à custa de grande pundonor e de uma inacreditável capacidade de sofrimento conseguira ultrapassar todas as dificuldades até atingir a glória olímpica, vivia então – falhados os negócios em que se envolveu – da modesta reforma do banco onde trabalhara alguns anos.
O Estado, tantas vezes padrasto para os que melhor o servem, suspendera-lhe a mensalidade de 1 250 euros e, no Sporting, Moniz Pereira por um lado e o feitio difícil do ex-campeão olímpico por outro, barravam-lhe o caminho.
Mas na última década tudo mudou. O Estado cedo lhe repôs a avença – entretanto reduzida para 1 029 euros… – e Bruno de Carvalho fez a reparação que o Sporting lhe devia, colocando-o à frente do atletismo. E se Lopes vivia de um rendimento, hoje já vive de três. Por isso, acha agora, e bem, que os lamentos de 2007 “são águas passadas”. Só o odiozinho por Mamede perdura. Até porque o ex-recordista do Mundo é o único inimigo de estimação de Lopes que, com a graça de Deus, continua connosco.
Observador, Sábado, 16FEV17
Finalmente a vida sorri a Carlos Lopes
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