Alexandre Pais

Estou agarrado aos cafés Delta

E

Corria o ano de 1988, a Élan atingia o pico editorial e o Benfica chegava à final da Taça dos Campeões. Recebi então um telefonema do António Sala – no apogeu da sua popularidade e na desse fenómeno da rádio que foi o Despertar, da Renascença – a convidar-me, em nome da Delta Cafés, para integrar a comitiva que a empresa ia levar à Alemanha para assistir à sétima final europeia do clube da Luz.
Entrei em parafuso, instalou-se-me um dilema terrível: ao aceitar o convite, ficaria eu refém de algum compromisso comercial que me levasse a escrever o que não quisesse? O que sucederia, por exemplo, se ao chegar ao aeroporto um elemento da família Nabeiro me dissesse algo do género: “Você vai connosco à borla, mas depois faz uma capa da sua revista com o nosso cafezinho e um artigo de fundo a elogiar a Delta, pode ser?”
A verdade é que se não houve contrapartidas, fiquei limitado para sempre. Há 28 anos que só bebo café quando consigo descobrir a marca e vejo que é Delta. Estou agarrado à cafeína de Campo Maior e não sou digno da confiança dos faróis da deontologia que abriram consultórios nas redes sociais. Irei ainda a tempo de devolver o custo da minha viagem? Por favor, comendador, dispense-me lá disso. É que nem estou a pensar ir para o Governo, nem agora me dava nada jeito.
Observador, Sábado, 11AGO16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas