Alexandre Pais

Em nome de Sara Carreira

E

O sofrimento dos famosos, dos poderosos ou dos muito ricos constitui um apelo irresistível à curiosidade coletiva. E um milhão e 700 mil espectadores de audiência média foi o resultado não de um exercício mórbido de voyeurismo, mas de um extraordinário programa de televisão: a entrevista de Manuel Luís Goucha a Tony Carreira. Só os grandes jogos de futebol conseguem atingir esses números e a TVI beneficiou ainda com o retorno da novela “Festa é festa” à liderança no seu horário – que perdera para “Amor, amor”, da SIC.

Mal sabia boa parte do público que para ver Tony depois da perda da filha teria de sofrer com ele durante três quartos de hora… Sim sofrer, porque ao contrário do que fariam, por exemplo, Júlia Pinheiro ou Cristina Ferreira, que sempre recorrem à cara de funeral que ajuda ao chorinho fácil, Goucha deixou esse possível rumo ao cantor, que se aguentou com a coragem dos bravos.

Perderam-se ambos apenas quando se falou das visitas ao cemitério, um momento duríssimo, mas tudo o mais foram os olhos de Tony e a sua amargura – também a compostura admirável – a fazer-nos segui-lo na dor profunda e insuportável. Tema terrível, discurso sublime, conversa para a história da televisão. Que Sara aplaudiu na plateia etérea. Chapeau!

Antena paranoica, Correio da Manhã, 22mai21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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