Alexandre Pais

Em defesa de Pepe, a cereja no bolo

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A nota 2 que o Record deu a Pepe pelos 69 minutos em que jogou no clássico – só o suplente Vítor Ferreira mereceu avaliação tão baixa nos portistas – encontram quase total justificação no seu desempenho em campo: duas oportunidades perdidas de marcar, uma entrada dura sobre Taarabt e culpas nos dois golos do Benfica.
Acontece que o peso do capitão na vitória do FC Porto terá de ser medido à luz de outros fatores. Um é o do estatuto que resulta de uma carreira de 700 jogos oficiais – metade deles no Real Madrid, coisa pequena – e o que ela representa de confiança para os colegas e de intranquilidade para os adversários. Depois, a aptidão para “segurar” os companheiros, irritar os rivais e “aconselhar” o árbitro – não foi por acaso que nem amarelo viu na parede de betão ao marroquino. Finalmente, a sua conhecida disponibilidade e ainda a capacidade para jogar semi-lesionado – à beira dos 37 anos! – sem que isso se torne evidente em lances normais, graças a um posicionamento em campo muito semelhante ao que fez de Ricardo Carvalho campeão europeu aos 38 anos. Pepe só perdeu na velocidade – aí não existe truque possível – ao deixar-se antecipar por Vinicius no primeiro golo encarnado e ao não ser suficientemente rápido para evitar o remate do brasileiro, no segundo. Brasileiro que é, hoje, o melhor avançado a atuar em Portugal, diga-se de passagem.
Com a decisão de risco de incluir Pepe no onze titular, Sérgio Conceição pôs a cereja no topo do bolo que preparou para ganhar o clássico. Um bolo feito de intensidade, união, coragem e espírito de sacrifício.
Continuamos a varrer o lixo para debaixo do tapete. Em Alvalade, dois dirigentes do Sporting foram ontem agredidos, enquanto no Porto houve mais tochas e comportamentos animalescos, antes do clássico. E os dois bonecos “enforcados”, expostos no viaduto da Alameda do Dragão, constituíram um claro aviso de que a violência espreita a oportunidade para mostrar as suas facetas mais aberrantes. Não é um fenómeno português, é certo. Agora, na visita do Real Madrid a Pamplona, supostos adeptos do Osasuna gritaram “Ramos muérete” (Ramos morre), em nova demonstração de ameaça dos ultras, que o futebol não consegue travar. Nem o futebol, nem as forças policiais, nem os tribunais, nem a lei – pelo menos, as leis vigentes.
A Juventus joga pouco, apesar de Cristiano desempenhar bem o seu trabalho. Na liga, Inter e Lazio estão “em cima” da Juve e os duelos para a Champions, em Lyon, no dia 26, e para a Taça de Itália, com o Mílan de Ibrahimovic, já esta quinta-feira, prometem grandes dificuldades. Sarri não tem mão em tanta estrela – o que não é uma novidade.
Depois de Bruno Alves, uma palavra para outro futebolista que brilha no calcio, o capitão do Hellas Verona, Miguel Veloso. Aos 33 anos e a cumprir a sexta época em Itália, o ex-leão é não só titular do sexto classificado da Serie A, como confirmou, na vitória sobre a Juventus, a sua boa forma. Fernando Santos é um homem de sorte: até aqueles que raramente chama se apresentam em condições de vestir a camisola da Seleção.
E um último parágrafo para Silas e para os jogadores do Sporting. Trabalhar e ganhar com um manicómio aberto em Alvalade tem que se lhe diga. Chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 10fev20

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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