Parece que só a desgraça une os belenenses. Sempre que o mau tempo se afasta e começa a cheirar a primavera, instala-se a divergência, a desunião e a inimizade. Onde houver dois adeptos da cruz ao peito, ouve-se a um dizer branco e logo o outro a garantir que é preto.
Na última semana, a agitação foi grande e nas redes sociais instalou-se o drama: dos nostálgicos de Matateu, aos fatalistas que já em nada nem em ninguém acreditam, passando, inevitavelmente, pelos especialistas do absurdo e do insulto.
As posições extremaram-se: ou contra Rui Pedro Soares ou escolhendo para alvo Lito Vidigal. Ao primeiro não perdoam a falta de batismo “azul” – só tem o de “azul e branco”, mas nem a aproximação lhe vale. O segundo é acusado de não querer apostar na formação, apesar de ter apresentado em campo, contra o Estoril, 14 jogadores portugueses, coisa há muito não vista na liga principal.
Quando atacam o líder da SAD, os auto-intitulados “verdadeiros belenenses” fingem esquecer-se de que não fora ele e estaríamos hoje a disputar o vibrante e próspero Nacional de Seniores, já que os dirigentes “puros”, saídos da pia batismal do eixo Salésias-Restelo, acumularam erros de gestão e ficaram até sem trocos para pagar a água que regava a relva.
Quando se atiram a Lito Vidigal, a memória é ainda mais curta. Há um ano, foram suplicar-lhe que deixasse a família e a pacatez de Elvas para vir salvar o Belenenses de mais uma descida. Depois, não lhe pagaram e agora estão indignados porque não fez melhor do que o 6.º lugar (!) e retirou da equipa esse poço de esforço e amor à camisola que é o sr. Martins. Esperem-lhe pela pancada. Se for dupla, então, será o regresso aos infernos.
Canto direto, Record, 23MAR15
Drama e nostalgia em Belém
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