Alexandre Pais

A minha vida começou com Dacosta

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“Por vezes, as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas” – Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, 1844-1900
“Lidei com o analfabeto José Saramago, o analfabeto José Cardoso Pires, o analfabeto Urbano Tavares Rodrigues, o analfabeto Sttau Monteiro…” – são palavras carregadas de ironia do escritor e jornalista Fernando Dacosta, numa passagem da grande e imperdível entrevista que deu, há dias, a Lúcia Crespo e Fernando Sobral, para o Negócios.

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Na foto de um casamento, em 1973, Fernando Dacosta, à direita, esconde-se atrás de Fernanda Mestrinho e Orlando Dias Agudo; à esquerda, José Neves de Sousa e Alexandre Pais
Reli, a propósito, outra entrevista sua, de 1989 e assinada por Cristina Arvelos, publicada na Élan, e lá pude reencontrar o mesmo discurso frontal, com um sentido cáustico e demolidor que caracteriza fielmente a sociedade portuguesa – a de há 26 anos como a de hoje.
Não tenho, no jornalismo e na vida, muitas referências, sou mais um coleccionador de decepções. Mas recordarei sempre os meus primeiros passos no Diário de Lisboa, no início da década de 70, porque lidei com as personalidades que Dacosta citou e com outras, que marcaram a minha carreira e me traçaram o futuro. Foram tempos duros, pois a exigência era absoluta, a falta de rigor pagava-se, a mínima quebra da deontologia significava a marginalização, o desrespeito pela verdade levava à porta da rua. Bem sublinha Dacosta: havia jornalismo, não comunicação social.
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Como qualquer redacção da época, a do DL parecia um manicómio: os mais velhos geriam o caos e os mais novos eram náufragos com pedras nos pés. E só não me afoguei porque o subchefe de redacção Fernando Dacosta, imune a manias e perseguições, me conduziu – e a outros analfabetos, estes reais – na sua jangada de competência, escola, exemplo e respeito pelas pessoas. Este é o momento: obrigado, Fernando.
Parece que foi ontem, Sábado, 14MAI15
Frases de 2015 Somos negreiros, exploradores de carne branca, que é o que andamos a fazer há séculos; a gente só sabe é dizer mal, dizer bem só se for de futebol; o jornalismo desapareceu, inventaram uma coisa que se chama comunicação social; dizia-me o Salazar: o que me irrita nos seus amigos da oposição é a demagogia. Andam a prometer às pessoas uma vida melhor mas nós não podemos viver acima das nossas possibilidades
Frases de 1989 Os jovens têm sido miseravelmente enganados pelos governos, que lhes prometem tudo nas campanhas eleitorais; as mulheres que estão no poder são impressionantes, todas elas imitam homens; o jornalista já não é aquele desgraçadinho que se comprava com um almoço, o preço subiu; o cavaquismo tanto existe à direita como à esquerda (…), ele traduziu a mentalidade que progrediu e se instalou entre nós
Ler entrevista integral à ÉLAN em https://alexandrepais.pt/wp-admin/post.php?post=7451&action=edit
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Por Alexandre Pais
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