Chega a ser uma ternura, ler e ouvir
o que a maioria dos analistas, candidatos e afins pensa de António José Seguro, não hesitando alguns, até, em
traçar-lhe o destino: nunca será primeiro-ministro. Estou de acordo. Já
concordei, aliás, quando se dizia o mesmo de António Guterres – jamais passaria
de picareta falante –, de Durão
Barroso ou de Passos Coelho. Sem esquecer Santana Lopes, que não houve tempo de
queimar antes de chegar a São Bento, mas que foi depois contemplado com a mais
cruel tentativa de assassínio político de que há memória entre nós, lapidação de José Sócrates incluída.
Santana e
Sócrates são, aliás, dois exemplos da inutilidade das campanhas dos botadores de faladura, que pretendem,
com ataques repetidos ao caráter, impedir a ascenção ao poder daqueles que
detestam ou que defendem políticas inadequadas a um certo tipo de dogmas e de
sociedade. E se lhes destruíssem as carreiras, então, seria perfeito. Alimentar
a inveja individual faz bem ao ego da frustração coletiva.
A verdade é
que Santana andou por aí, está hoje à
frente da Santa Casa e o que não falta é quem lá vá pedir batatinhas. E quanto
a Sócrates, ei-lo de regresso através da RTP. Dois anos de travessia do deserto bastaram, o ódio da intelligentsia nacional não passa de basófia.
Agora, sem
efeitos práticos dos mísseis
despejados sobre Passos Coelho e sobre o Governo, o alvo a abater pelos
especialistas na má língua política – é António José Seguro. Porque não é como
António Costa, porque não tem background,
porque é inseguro, porque não apresenta propostas, porque o seu discurso não cola ou soa a falso, porque chegou
Sócrates, porque sim e porque não. Terá um homem destes condições para ser
primeiro-ministro? Se as críticas correspondessem à realidade, seria evidente
que não.
A verdade é
que o retorno de Sócrates reforça a teoria de que a insegurança de Seguro será
a sua perdição. O antigo líder socialista reaparece na cena política disposto a
criar a confusão da raposa que entrou no galinheiro. E na ânsia de esfrangalhar
o Executivo não deixará de ser igualmente desgastante para o principal rosto da oposição. O problema é que para
voltar ao poder teria de obrigar Seguro a estender-lhe a passadeira e de
reconquistar o PS, o que não se vê como poderá acontecer, pelo que restará a
Sócrates a ambição presidencial – e mesmo assim se Guterres, que foi seu chefe e é tão amigo dos pobrezinhos, não
tiver aspirações nessa área e não aparecer por aí a puxar pelos galões.
Tozé Seguro
será, quase inevitavelmente, primeiro-ministro se houver eleições antecipadas.
E se só tivermos legislativas dentro
de dois anos? Bem, 2015 é daqui a uma eternidade, tem de haver país primeiro. E
logo se vê.
Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 4 abril 2013