Alexandre Pais

Augusto Inácio: um homem

A

O futebol está repleto, mal quanto a mim, de casos de jogadores e treinadores que trocam de camisola a meio da época ou são contratados em janeiro por outro clube contra o qual ainda têm de jogar, numa confusão que cria muitas vezes situações delicadas e deixa, mesmo, cadáveres pelo caminho.

Não percebo, por isso, esta condenação de virgens ofendidas com que se sentencia Augusto Inácio, futuro dirigente leonino, que estará hoje em Alvalade como treinador da equipa adversária. Como se fosse uma situação nunca vista.

Parece-nos estranho, de facto, em especial aos que somos simples observadores do fenómeno e que nada pagamos por largar pela boca fora umas considerações mais ou menos filosóficas. Mas coloco uma pergunta: seria justo que Inácio, em nome da indiscutível grandeza do Sporting e da importância do seu papel na nova estrutura, tratasse o Moreirense como descartável, fazendo letra morta do seu compromisso com dirigentes e adeptos, e traindo a confiança que os jogadores nele depositaram e que os levou a trabalharem melhor, correrem mais, esforçarem-se até ao limite do exigível, transcenderem-se ao ponto de tornar possível tudo o que parecia perdido há semanas atrás? Mais: seria isso digno do verdadeiro profissional que Inácio é? E seria aceitável evidenciar uma tal fraqueza de liderança que comprometeria até a sua capacidade para integrar uma equipa diretiva que tem de devolver ao Sporting um estatuto e dele a fazer um exemplo?

Se Paulo Bento passa por ser benfiquista e deu aos leões tudo o que veio a transformar-se em saudade, se Jorge Jesus não se livra da fama de ser sportinguista e fez do Benfica campeão, por que não pode Augusto Inácio ser fiel à palavra e defender o Moreirense antes de iniciar outras funções?

A verdade é que pode e deve. E hoje, no banco do opositor do Sporting, tentando honradamente vencê-lo ainda que com o coração a sangrar, não se sentará só um treinador de futebol – estará lá também um homem.

Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 6 abril 2013

O futebol está repleto, mal quanto a mim, de casos de jogadores e treinadores que trocam de camisola a meio da época ou são contratados em janeiro por outro clube contra o qual ainda têm de jogar, numa confusão que cria muitas vezes situações delicadas e deixa, mesmo, cadáveres pelo caminho.
Não percebo, por isso, esta condenação de virgens ofendidas com que se sentencia Augusto Inácio, futuro dirigente leonino, que estará hoje em Alvalade como treinador da equipa adversária. Como se fosse uma situação nunca vista.
Parece-nos estranho, de facto, em especial aos que somos simples observadores do fenómeno e que nada pagamos por largar pela boca fora umas considerações mais ou menos filosóficas. Mas coloco uma pergunta: seria justo que Inácio, em nome da indiscutível grandeza do Sporting e da importância do seu papel na nova estrutura, tratasse o Moreirense como descartável, fazendo letra morta do seu compromisso com dirigentes e adeptos, e traindo a confiança que os jogadores nele depositaram e que os levou a trabalharem melhor, correrem mais, esforçarem-se até ao limite do exigível, transcenderem-se ao ponto de tornar possível tudo o que parecia perdido há semanas atrás? Mais: seria isso digno do verdadeiro profissional que Inácio é? E seria aceitável evidenciar uma tal fraqueza de liderança que comprometeria até a sua capacidade para integrar uma equipa diretiva que tem de devolver ao Sporting um estatuto e dele a fazer um exemplo?
Se Paulo Bento passa por ser benfiquista e deu aos leões tudo o que veio a transformar-se em saudade, se Jorge Jesus não se livra da fama de ser sportinguista e fez do Benfica campeão, por que não pode Augusto Inácio ser fiel à palavra e defender o Moreirense antes de iniciar outras funções? A verdade é que pode e deve. E hoje, no banco do opositor do Sporting, tentando honradamente vencê-lo ainda que com o coração a sangrar, não se sentará só um treinador de futebol – estará lá também um homem.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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