Alexandre Pais

Crónicas da Sábado: Sinais dos tempos (1)

C

1. Passos
Coelho foi ao supermercado, sozinho mas com o fotógrafo atrás. Sozinho no que
respeita à família, pois levou um segurança, um único, atrás. Cavaco foi,
assim, rendido como centro das atenções nas redes sociais, com grande parte dos
comentários a pender para a ridicularização da ida do primeiro-ministro às
compras. Comecei por discordar da corrente maioritária no Facebook ou no
Twitter, já que gosto de ver pessoas importantes a descer dos pedestais à
Terra, pelo menos de vez em quando. Mas depois interroguei-me se seria
necessária essa representação de simplicidade. Até porque Passos Coelho não
poderá, infelizmente, manter por muito tempo tão básica postura. Em breve, os
insultos e as ameaças o impedirão de simular ser um cidadão igual aos outros e os
simplórios passeios pelo Continente da Amadora parecerão, aos olhos de quem por
lá anda à procura de produtos brancos
– e quanto mais não seja pela descontracção exibida pelo PM –, puras
provocações à plebe.

2. Menos
tranquilo do que Passos Coelho vemos António José Seguro, o homem incumbido de
conseguir a quadratura do círculo, ou seja, de convencer os portugueses que
tanto apoia as medidas de austeridade como está contra elas. O secretário-geral
do PS continua a percorrer o território e a falar para as bases, mas ao fim de
seis meses na oposição ainda não foi capaz de dizer ao País algo de importante
que o País retivesse. É cada vez mais um líder de transição, sem espaço de
manobra e sem golpe de asa.

3. Aliás,
isto da actividade política está mau para todos os seus agentes. E ou muito me
engano ou este governo começa a padecer do autismo em que o anterior se
distinguiu. Depois de nos ter ajudado a mergulhar numa recessão que poderá
chegar este ano aos 4 por cento, passou a pregar a confiança, o mundo maravilhoso.
Mas o discurso soa a oco e contraria de tal modo as teses daqueles ex-velhos do Restelo que a realidade
transformou em sábios da tribo, que a possibilidade de um novo resgate a
Portugal ganha forma, com os consequentes aumentos de impostos e uma mais
profunda degradação da nossa qualidade de vida. E quanto às PPP e às fundações
disto e daquilo, que eram inúteis, o que se passa? Os empregozinhos fazem muito
jeito, é isso?

4. A
demissão da PSP está hoje patente no centro de Lisboa, que chega a parecer uma
cidade sem lei. Por todo o lado se vêem carros estacionados, sobre  os passeios, nas curvas, em segundas filas,
nas passadeiras. Os graves problemas que afectam as nossas polícias podem vir a
dar o pontapé de saída numa conflitualidade social que, se partir daí, depressa
se generalizará. Continuamos a brincar com o fogo e a gasolina – e a cortar a
água aos bombeiros.

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 2 fevereiro 2012

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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