Fustigado à direita e à esquerda, criticado por sindicatos e patrões, alvo dos inquéritos hipocondríacos de rua e dos desvairados das redes sociais, António Costa foi salvo da metralha pela morte de Isabel II. É que, com exceção da CMTV, todos os outros canais, generalistas incluídos, assentaram arraiais junto aos basbaques plantados frente ao palácio de Buckingham, dando-nos conta, não de novidades, que não havia, mas de informação biográfica retirada do Google à socapa.
Confesso que me divertia mais com o ‘tiro ao Costa’. Por exemplo, a ver a direita ‘revoltada’ pelos 50 euros atribuídos também aos filhos de quem ganha melhor ou com os 3,5% de aumento de pensão que os reformados que recebem 3 ou 4 mil euros – que na verdade não ‘levam para casa’ porque o valor líquido é bem menor – vão ter em janeiro.
Divertia-me, afinal, com o nosso mundinho ao contrário, pois venho do tempo em que a esquerda só reclamava dinheiro para os pobrezinhos e ‘urricos’ eram protegidos pela direita. Agora, a partida de Sua Majestade privou-me desse gozo e deu-me ainda uma dura penitência: ouvir durante dez dias tantos ‘entendidos’ em realeza a divagar, dizendo-nos o que já sabemos e o que dispensávamos saber…
Antena paranoica (ano 13), Correio da Manhã, 10set22