Alexandre Pais

Comigo não contem para pagar o subsídio de rega

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Houve tempo em que se acreditava no que vinha nos livros. Quem tinha, dava ou emprestava, quem precisava, agradecia ou pagava.
A ilusão do Syriza diz-nos hoje que as teorias livrescas podem não estar certas e que é possível continuar a gastar o que não temos, pondo fim à austeridade e diminuindo em simultâneo o défice, como promete o catedrático ministro Varoufakis. E fica o Mundo suspenso do que irá suceder, ainda que ninguém consiga perceber como poderão os gregos escapar à bancarrota, evitar a saída do euro e o regresso ao dracma, com a inevitável desvalorização da moeda a empobrecer muito mais o país.
Em tempos, tive uma colaboradora nas tarefas domésticos a quem julgava retribuir acima da média e que um dia optou por outra casa porque no prédio em frente havia quem lhe oferecesse quase o dobro. E aconteceu, de facto, mas apenas durante dois meses, enquanto não resolveram o problema de forma mais barata – e a dispensaram.
É assim que ouço o canto de sereia do novo governo da Grécia, tão incensado entre nós por alguns poetas, por ter tomado numa semana mais medidas – na realidade, anunciado benesses – do que Passos Coelho em quatro anos. Quando chegar à altura de pagar, é que vão ser elas. Comigo, que continuo a acreditar no que vem nos livros, não contem para, com a minha CES, voltar a atribuir aos jardineiros gregos o subsídio de rega.
Observador, Sábado, 5FEV15

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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