Alexandre Pais

Artur, amanhã estamos cá às duas

A

Chegou o dia da notícia que não queríamos ter, do editorial que não gostaríamos de escrever. Desde logo porque se alguém merecesse o dom da eternidade esse alguém seria Artur Agostinho e depois pela consciência de que nada do que possamos aqui dizer irá acrescentar o que quer que seja à carreira e à vida do maior comunicador português de todos os tempos.

Mas este editorial é também uma obrigação do diretor de Record, na data do desaparecimento físico de um ilustríssimo antecessor que marcou, com José Monteiro Poças, uma etapa decisiva da vida de um jornal mais tarde vencedor, precisamente aquela em que, sendo necessário salvá-lo, houve quem tomasse em mãos essa chama e não a deixasse apagar.
Artur Agostinho, para além de um homem de Record – aqui começou a colaborar em 1952, passou a diretor em 1963, viu-se miseravelmente despedido em 1974 e regressou pela porta grande em 2005 – foi um profissional tão multifacetadamente competente, tão acima da média, tão na crista da onda da comunicação por 70 anos consecutivos que se transformou numa referência para gerações sucessivas.

O modo como o Prémio Artur Agostinho foi aceite por figuras como Luiz Felipe Scolari, Pedro Pauleta, Rui Costa, Luís Figo, Cristiano Ronaldo e José Mourinho, e a forma reverente e amiga como foi recebido e acarinhado pelos premiados, confirmam que o seu prestígio e credibilidade não só atravessaram décadas, como cativaram os que dele só conheceram a justa fama de que desfrutava.

Partiu o Artur mas nem por isso Record o perdeu. É que continuaremos a vê-lo muito por cá, com a mesma simplicidade dos que são efetivamente superiores. E tendo-o connosco o trabalho fica mais fácil. Basta pensar como ele pensaria, agir como ele agiria, tentar comunicar como ele comunicaria.

Estaremos todos os dias com o gigante de sempre, o mestre, a maior referência de Record, o melhor de todos nós. Artur, amanhã, a ver se falamos das eleições do teu clube. Podes estar cá às duas?

Editorial, publicado na edição impressa de Record de 23 março 2011

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas