Gostamos de erguer troféus
e esquecer que o êxito
só foi possível porque, antes,
alguém ousou sonhar
Desconfio muito dos prémios internacionais, outorgados muitas vezes não aos melhores mas aos amigos ou aos que proporcionam negócios mais chorudos. Mas acredito que não seja esse o principal critério de atribuição dos Emmy, que não desfrutariam do prestígio que alcançaram se não se guiassem por regras em que a qualidade manda.
Sublinho, assim, o enorme significado que tem para a indústria, para a TVI e para todos os que contribuíram para o seu sucesso, o facto de “Meu Amor” ter conquistado o Emmy na categoria de Melhor Novela Internacional. O que justificou a alegria desenfreada dos portugueses em Nova Iorque e até o exagero do decote de Rita Pereira – e a sua dificuldade em o controlar ao milímetro.
Só faltou uma palavra para o visionário que há muitos anos apostou na produção de telenovelas, escolhendo autores e protagonistas, e não fugindo mesmo a impor aos textos uma lógica popular e comercial, sem a qual tudo se teria perdido.
Em Portugal, gostamos de erguer troféus e de ignorar que o êxito que nos caiu nas mãos só se tornou possível porque, antes, alguém ousou sonhar. Foi o que fez, na altura certa, José Eduardo Moniz, que por isso ganhou também um Emmy – o que derrota a ingratidão e o esquecimento.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do Correio da Manhã de 27 novembro 2010