Sou do tempo em que as novelas brasileiras arrasavam. E recordo bem a timidez das primeiras produções nacionais e o horror que era compará-las com as que chegavam do lado de lá do Atlântico.
Acompanhei depois, com satisfação, a rápida aprendizagem de autores, realizadores e actores portugueses, e a época de ouro da TVI, quando as tramas e a escolha dos protagonistas não só se focavam nas audiências como as conquistavam.
Assiste-se hoje à retoma das histórias “made in Brasil”, mesmo que se mantenha a preferência do público pelas novelas em que surjam pessoas mais parecidas connosco, que vivam na nossa terra e tenham os nossos costumes.
O que me parece é que os tradicionais guionistas do lado de cá ou se desactualizaram ou a função é agora desempenhada por gente menos competente, que não “apanha” o estreito fio de ligação ao espectador.
Há dias, em três minutos de “Remédio santo”, na TVI, ouvi as seguintes expressões: “arrastar a asa”, “deste-lhe cabo do canastro”, “chama um agente da autoridade”, “ela não é para o teu bico”, “és um rapazola”, e “dar corda aos sapatos”.
Não é uma opinião, é um facto: só nas gerações mais velhas se encontra ainda quem fale assim. Ou seja, alguém está a perder o comboio.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do Correio da Manhã de 18 junho 2011