Os programas de “opinião pública”, que começaram nas madrugadas da rádio há muitos anos e gozam hoje de boa saúde nos canais noticiosos de televisão, constituem uma excelente área de estudo para quem queira criar um perfil do português médio e compreender o que lhe vai na cabeça.
É também por isso que gosto de andar de metro, de ver como se vestem as pessoas, se estão mais ou menos fechados os seus rostos, se aumentam ou diminuem os hábitos de leitura. E como têm diminuído, agora que o “boom” dos jornais gratuitos foi esmagado pela falta de apetite por informação que o cidadão comum tem…
Além de tudo, os espaços abertos à dissertação dos telespectadores são bem divertidos. Momentos hilariantes são, sem dúvida, os das considerações “filosóficas” daqueles cuja preocupação é evidenciar “cultura”, logo seguidos pelo deslumbramento dos que julgam ter graça ou distinguir-se pela diferença.
O único problema está no conteúdo das intervenções, já que pelo menos metade dos que se atrevem a tentar desenvolver um raciocínio não faz a mínima ideia nem do que diz, nem da real natureza do que se procura debater. Mas como são horas de emissão que saem baratas à casa, é só abrir a válvula de escape e deixar a asneira jorrar.
Antena paranóica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 20 novembro 2010