Para muitos, são jovens idealistas; para outros, peças do tabuleiro político, manipulados por extremistas de esquerda. Mas os alunos em protesto na defesa do clima são tratados de forma mais radical por vozes de extrema-direita, que os consideram parasitas do ensino público, que em vez de estudarem se dedicam ao ócio e à conflitualidade.
Haverá, por certo, um pouco de tudo nessa amálgama de vontade de salvar o Planeta, ânsia de protagonismo, histerismo e ignorância. O que de facto parece importante está para além das motivações individuais: é o contributo dessa ‘vanguarda’ ambiental para a formação não de carneirinhos dormentes e conformados, mas de cidadãos inquietos, com capacidade de colocar dúvidas e questionar as decisões de quem manda – nem sempre virtuosas, como se sabe.
Passamos o tempo em lamúrias pela fraca qualidade dos atores políticos de hoje, muito longe, na verdade, daqueles que, à direita e à esquerda, protagonizaram o pós ‘25 de abril’. Devemos, por isso, saudar – apesar de alguns atos excessivos e condenáveis – o exercício de cidadania que este movimento ‘ecológico’ contempla e esperar que dele surja, com o tempo e varrida a demagogia, gente empenhada no futuro coletivo.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 19nov22