Alexandre Pais

Desce devagar a montanha, Cristiano!

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Nunca pensei que me acontecesse, mas é a vida. Vou ter de citar Cristina Ferreira para início de conversa acerca da gigantesca onda de ódio e manipulação que por estes dias se abate sobre o único português conhecido em todo o Mundo devido à dimensão de uma carreira que construiu a pulso, partindo da miséria: “Cristiano pode estar a descer a montanha, mas a passar por muitos que nunca lá chegarão”. Na ‘mouche’.

Muitos opinadores gostariam de ser milionários – e de ter uma estátua em Times Square ou de fazer com Messi um ‘comercial’ para a Louis Vuitton – em vez de se verem forçados a aceitar um trabalhinho extra para ter o dinheiro menos à justa no fim do mês ou ir derretê-lo no casino. Daí que se torne irresistível para a inveja social atacar o caráter de quem é bem-sucedido na vida. Terá essa canalha uma pálida ideia da figura que faz?

Foi um festival. Começou pela ‘tensão’ entre Bruno Fernandes e Cristiano, que o primeiro não só desmentiu como pôs a nu a repetição exaustiva de um vídeo mudo, logo abandonado quando passou a ter som. Seguiu-se a cena de Cancelo e Félix ‘picados’, que resultou não na crítica à agressividade do defesa, mas no destaque à ‘incapacidade’ de Cristiano para o acalmar!

Em simultâneo, publicava-se uma ‘notícia’ a garantir que os colegas do MU queriam ver Cristiano pelas costas… Quais colegas? Os que já tinham deixado Inglaterra a caminho das seleções e que não tiveram sequer tempo para falar do assunto? Ou os ‘indignados’ seriam os reservistas? O azar veio do jovem Elanga, que em declarações ao jornal sueco ‘Aftonbladet’ deu razão a CR7 em parte do que disse a Piers Morgan, reforçando que Cristiano continuará a ser “uma inspiração” para ele. E sobre o United, basta recordar a revelação de José Mourinho, o treinador dos últimos três títulos do clube: “Um dos melhores resultados da minha carreira foi ter acabado a Premier League em segundo lugar com o MU porque as pessoas não sabem o que se passa nos bastidores”. Esperemos apenas que o ‘despedimento’ de Cristiano – na sequência das declarações que fez no ‘timing’ certo para se poder finalmente ver livre de um pesadelo – seja conhecido horas antes de um jogo decisivo que é para termos homem!

Depois veio outra ‘tensão’, na Seleção, sempre desmentida e sempre recuperada. Até a FPF (?) estava ‘preocupada’ com a ‘tensão’… Quem na Federação? As empregadas da limpeza? ‘Tensão’ essa que se teria estendido ao Qatar, onde a comitiva nacional não tem sossego porque os repórteres são às centenas e a ‘explicação’ de gente anormal: é por causa de Cristiano e… da entrevista. Claro, se não houvesse entrevista, quem quereria saber do Mundial?

Mas para atingirmos o cúmulo da estupidez há que ter a paciência de seguir o ‘komentariado’ televisivo, área carregada de ressabiados – ainda assim em minoria, é certo – e na qual um plumitivo ‘catedrático’ se deu até ao desplante de concluir a sua descarga de azia com uma frase que denuncia o que o move: “Cristiano Ronaldo, quer ele queira ou não, é passado no futebol” (sic). Pura inveja. E esse é o ponto, pelo que cabe agora à Seleção e ao craque de que o País se orgulha fazerem história no Qatar e obrigarem os falhados na subida da montanha a engolirem o que vomitaram. É já na quinta-feira, anda Cristiano, vamos lá Portugal!

Outra vez segunda-feira, Record, 21nov22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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