Há semanas, não tendo perguntado ao protagonista, escrevi aqui sobre Amândio Silva, um dos oposicionistas do Estado Novo que desviaram o avião da TAP, em 1961, quando voavam de Casablanca para Lisboa. E armei-me em jornalista-google, pesquisando na internet a rota da aeronave após ter caído na mão dos piratas do ar. E fui parar não só ao site errado, como confiei na fonte – um erro de amador.
Por acaso, desconfiei quando li que os prospetos tinham sido lançados sobre Porto e Leiria. Mas Leiria, porquê? Não seria mais lógico Coimbra? Seria mas não foi porque devendo o avião regressar a Marrocos, para aterrar em Tanger, com o combustível à justa, jamais poderia seguir para Norte – o seu destino foi antes o Sul, sendo os panfletos contra o regime de Salazar lançados sobre Barreiro, Beja e Faro.
Curiosamente, a minha involuntária incursão pelo universo da ficção ficou a descoberto, com gentileza e simpatia é certo, num almoço no magnífico restaurante Comendador Silva, na rua Latino Coelho, em Lisboa – é, já renunciei à carteira de jornalista, promovo ou aconselho o que acho que merece. E Comendador Silva porque é propriedade de Aguinaldo Silva, um consagrado ficcionista brasileiro, autor de várias novelas de grande êxito e que há anos vive e investe em Portugal. Afinal, fiquei feliz por o meu rigor editorial ter sido abalado num ambiente cool, boa comida e a melhor companhia. A vida é feita de compensações.
Observador, Sábado, 18MAI17