Em 1976, a propósito de Fernando Oneto, escrevi no “Jornal Novo” uma nota sobre Baptista-Bastos. Passaram anos até o encontrar, de madrugada, a sair do Snob. Foram cinco minutos de conversa, depois ele despediu-se e dirigiu-se ao carro. Dez metros percorridos, voltou-se e disse: “Tu, há tempos, escreveste uma coisa muito gira sobre mim. Mal escrita, mas gira”. E deixou-me com cara de parvo.
Foi este jornalista único, de uma velha guarda irrepetível, prosador admirável e homem frontal, que partiu terça-feira. Nas redes sociais, pântano de ódios e calúnias, choveram agora elogios – que não faltaram também na comunicação tradicional, televisão incluída.
Parecia mesmo que uma figura de tal grandeza merecera até aos dias do abandono – em que uma pequena pensão é o que resta do reconhecimento público – a atenção e o carinho que a sua obra justificava. Mas não. Se a palavra de Baptista-Bastos era ainda uma estrela que brilhava, na vida dele e na nossa, isso não sucedia porque tribunas auto-intituladas “de referência” lhe prestavam a vénia das eras de glória. Não, tivemos o BB no ativo até aos 83 anos apenas porque houve um jornal que o acolheu quando outros o rejeitaram. O “Correio da Manhã”, nem mais.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 12MAI17
Baptista Bastos: aqui até ao fim
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