Há um ano, um comentador e um “narrador” de um canal de desporto peroravam sobre o “péssimo negócio” que, diziam eles, o Real Madrid teria feito com Morata. O avançado jogava pouco – menos de 40 partidas em quatro épocas – e tinha sido vendido em 2014, à Juventus, por 20 milhões de euros, e readquirido em 2016, através de uma cláusula contratual imposta por quem sabe da coisa, por 30 milhões. Logo, concluíam os surrealistas de serviço, o Real teria perdido 10 milhões, uma nabice.
Na verdade, tendo no plantel um jogador de 21 anos, promissor mas a precisar de oportunidades, os madridistas colocaram-no a “crescer” noutra equipa de topo – e nada menos que no campeão italiano – e por essas duas temporadas de tirocínio pagaram apenas 10 milhões de euros e ficaram com o que não tinham antes: uma alternativa de qualidade a Benzema.
Mas o caso não ficou por aí porque Morata não quer ser suplente, acha-se melhor do que é – “esconde-se” um pouco e as suas exibições são irregulares – e forçou de novo a saída do Bernabéu. Vendo que ele iria voltar a criar problemas, pela presença constante no banco, o Real foi outra vez sábio e concluiu o “péssimo negócio”, cedendo-o ao Chelsea a troco de 80 milhões, uma barbaridade.
Pensei nisto a propósito da contratação de Acuña pelo Sporting e das considerações de alguns entendidos que falam de cátedra, como se no negócio dos jogadores os imponderáveis não se sobrepusessem à ciência e às convicções. Basta não haver dois futebolistas idênticos, nem dois treinadores ou dois clubes iguais, para que o acerto seja difícil e o falhanço espreite atrás da porta.
Veja-se o que aconteceu a José Mourinho, que sabe tudo sobre futebol. Na derradeira passagem pelo Chelsea, entre 2013 e 2015, Mou dispensou, entre outros, três jogadores: Mohamed Salah, De Bruyne e Lukaku. Pelo egípcio, a Roma deu 15 milhões de euros aos “blues”, tendo-o vendido há um mês ao Liverpool, por 39 milhões. O médio belga, pelo qual o Wolfsburgo pagara 25 milhões ao clube de Stamford Bridge, em 2014, valeu, dois anos depois, 75 milhões, entregues aos alemães pelo Manchester City. Quanto ao ponta de lança, também belga, o Everton, que o adquirira ao Chelsea por 32 milhões de euros, em 2014, vendeu-o agora ao Manchester United – do próprio Mourinho! – por 85 milhões – uma das transferências mais caras da história do futebol. E nestes “péssimos negócios” podemos dizer que Abramovich perdeu, ou deixou de ganhar, 127 milhões de euros? Não, porque se ficassem no Chelsea os três supercraques não seriam primeiras escolhas, jogariam pouco e não se valorizariam.
Dito isto, os 10 milhões que Acuña custou tanto podem ser muito dinheiro como vir a ser muito pouco. Ninguém sabe, mas todos gostamos de falar do que não sabemos.
Outra vez segunda-feira, Record, 25JUL17
Acuña foi caro ou barato?
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