Numa curta intervenção semanal na Hora Record da CMTV, confirmo o que já sabia: proferida a asneira, é sempre tarde para a corrigir. Ao contrário do que acontece com a palavra dita, na escrita funciona-se com rede, o computador, que nos evita os desaires. Basta ler, voltar atrás e recomeçar até dar certo, não há “engasganços”.
Para falarmos com fluidez e seguirmos uma linha de raciocínio que possa ser acompanhada por quem nos ouve, precisamos de ter um dom: o da comunicação oral. Ou dispor, ao menos, de um mínimo de tempo para preparar o discurso. Como diz o jornalista António Ribeiro Cristóvão, “o improviso dá muito trabalho”.
Quando revejo os meus comentários, para além de alguma inexatidão ou explicação deficiente, que me irritam sem remissão, arrepio-me com os termos que repito: é o “curioso”, o “fantástico”, o “interessante”, o “enfim”, o “de facto”, ou simplesmente o “bem” antes de qualquer frase.
Mas na última quarta-feira, na análise – aliás, excelente – do Arsenal-Barcelona, na Sport TV, o treinador Domingos Paciência deixou-me mais animado ao recorrer 13 vezes (!) à expressão “não haja dúvida”, entre os 71 e os 84 minutos de jogo. Como o jeito para a bola ou a vocação para a escrita, a arte de dizer não é para todos – disso, não haja dúvida.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 27FEV16
A arte de dizer não é para todos
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