O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal avisou há dias que em 2018 a seca poderá constituir uma “calamidade ainda maior do que no ano passado”. Foi o derradeiro grito de alerta dos muitos que se têm feito ouvir e que são, afinal, o sublinhar de uma evidência. Entrámos no inverno numa situação grave em matéria de recursos hídricos, em janeiro pouco choveu e fevereiro parece ir pelo mesmo caminho. Se março e abril mantiverem a tendência, a água secará nas torneiras no próximo estio.
Perante o pesadelo, o Governo está entregue ao oxalá que chova do ministro do Ambiente e do seu achódromo: ele acha que não são precisas mais pequenas barragens e que se deve manter o demagógico preço do metro cúbico que tanto incentiva o desperdício. Para ele, a solução é poupar água – ainda que ela não exista.
Depois dos racionamentos em Roma e noutras cidades europeias no último verão, tudo aponta para que o problema se agrave este ano e nos seguintes, pelo que é absurdo não ter em conta aquilo que os sobreviventes de ilhas como as Canárias, as Baleares ou Porto Santo, sem esquecer os de outras regiões aqui ao lado, no país-vizinho, há muito descobriram: o recurso a centrais de dessalinização – cuja montagem é naturalmente complexa e demorada.
Não é cedo para começar a trilhar esse caminho. O drama é que temos tanto mar e costa como devotos da Senhoras de Alqueva e do Castelo de Bode, convencidos que a água é um bem divino e que só pode cair do céu.
Observador, Sábado, 8FEV18