O Carlos Gil que Cavaco não condecorou

Nascido em Mortágua, em 1937, e criado em Figueira de Castelo Rodrigo, Carlos Gil recebeu vários prémios como jornalista, mas nunca – ao contrário do seu homólogo que é costureiro, veste a primeira-dama e foi condecorado por Cavaco com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, no último 10 de Junho – se viu distinguido pelo poder. E conhecendo-o como o conheci, atrevo-me a acrescentar: nem ele queria.

Tive o prazer de privar com Carlos Gil, primeiro no diário Portugal Hoje, no início dos anos 80, depois, já na segunda metade da década, na revista Élan, onde assinou trabalhos de enorme qualidade, dos roteiros turísticos – que integram hoje os conteúdos das newsmagazines – às reportagens na América do Sul – continente de que conhecia, como poucos, história, geografia e política.
Apaixonado pelo teatro – foi actor, encenador e produtor –, só em 1968 desistiu do curso de Direito para se dedicar ao jornalismo, tendo começado pelo diário A Capital, e logo a seguir, entre 1970 e 1977, pela revista Flama. Trabalhou como free-lancer, percorreu o Mundo e publicou diversos livros.

Antes da Élan, esteve na Mais, de Carlos Cruz, de 1982 a 1985, e depois, a partir de 1990, na revista do Inatel. Colaborou com inúmeras publicações, do Expresso ao El País, passando pela anterior versão da Sábado. Em 2005, o seu espólio foi entregue pela família à Fundação Mário Soares.
Fotojornalista notável e professor, o Carlos era igualmente um bon vivant, conversador emérito e sedutor, um homem culto, leal e directo, um grande companheiro que nos deixou, desde que partiu, em 2001 – como Neves de Sousa aos 64 anos, perigosa idade – uma fraterna recordação de calor e ternura.
Parece que foi ontem, Sábado, 30JUL15