As últimas entrevistas de Passos Coelho, à SIC e à TVI, mostraram-nos um primeiro-ministro mais forte do que se esperaria, tanto no conhecimento das mais diversas áreas da governação, como no domínio da palavra, em que se tornou num verdadeiro especialista. A tudo responde de forma quase espontânea, como se já conhecesse as questões, o que significa, no mínimo, que se prepara, que faz o trabalho de casa.
Até aquilo em que o líder do Executivo falha, a exibição de uma frieza e de um afastamento da realidade que chegam a ser chocantes, pode estar a transformar-se num trunfo, e a insensibilidade social de que é acusado parecer apenas um sinal, mais um, de firmeza e determinação. E sabe-se como o pagode gosta disso.
Já Paulo Portas, na sua entrevista à SIC, fez o contraponto, vestindo a capa do político preocupado com a sorte daqueles a quem as medidas do Governo mais têm afectado. A sua indiscutível capacidade de sobrevivência política diz-lhe que o eleitorado aprecia também o ar compungido e amacia-se com uma boa lágrima, mesmo que seja de crocodilo.
Passos e Portas completam-se assim, com a velha técnica do polícia bom e do polícia mau, uma estratégia que as sondagens indicam estar a resultar. E acima de tudo jogam com a atracção que os portugueses sempre sentem por quem lhes diga que sofrem hoje para amanhã serem felizes.
Observador, Sábado, 30JUL15
O polícia bom e o polícia mau
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