Os anos não perdoam, se calhar é isso. Acontece é que vejo este filme da prisão de altos dirigentes da FIFA um bocado ao contrário do lado para onde puxa a maré.
A “intelligentsia” europeia anda há séculos a clamar contra a corrupção no organismo que tutela o futebol mundial, sem ter conseguido produzir prova que permitisse meter os vivaços na cadeia. Tiveram de vir agora os “américas” agir porque por nós era só postas de pescadas para a plateia ululante.
Essa conversa mole tem menos a ver com a incapacidade do sr. Blatter para dirigir o barco e mais com a gula dos que, estando longe da distribuição de benesses – e designo assim um mundo que está por descobrir –, sonham abocanhar o bife. É o que se passa sempre que quem detém o poder se perpetua no poleiro, mesmo para além daquele dia em que, julgando ainda mandar – por ausência de coragem para se encontrar um mensageiro que lhe diga a verdade –, preside a reuniões onde a cáfila que acoitou manda por ele.
Também ao contrário do que li e ouvi nos últimos dias, Luís Figo não ganhou grande coisa com a desistência. Primeiro porque quando decidiu candidatar-se sabia bem ao que ia. Depois porque se queria servir o futebol fazia como o príncipe jordano Ali Bin Al-Hussein, que lutou até ao fim, impediu Blatter de ganhar à primeira e marcou o seu espaço para o futuro – o que não aconteceu com Figo. Aliás, a justificação da renúncia do ex-futebolista assentou numa suposta falta de democracia na eleição, alegação típica dos que sabem ir ser derrotados, e teve uns “derivados” e uns “inerentes” na versão portuguesa da explicação, dada pelo próprio, que confirmaram o pior: excecional com bola, pouco mais que vulgar sem ela.
Canto direto, Record, 1JUN15
Figo: bom só com bola
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