“De tanto ouvir falar do seu génio, do seu estilo e da sua elegância, fecho os olhos e até parece que o estou a ver” – Rui Dias, jornalista, sobre Di Pace
Entre os 7 e os 12 anos, perdi poucos jogos do Belenenses, no campo das Salésias. Ia com o meu pai da nossa casa, na Estrela, e descia a Av. Infante Santo até ao eléctrico que nos levava a Belém. Em 1953, tinham chegado para os azuis três jogadores argentinos – Di Pace, Perez e Benitez – e o público acorria em massa.
Do trio, Di Pace era o artista, um driblador extraordinário e um municiador de jogo de nível muito acima da média. Depressa lhe chamaram maestro e o grande Matateu foi o principal beneficiado pela classe do homem de Mar del Plata. Para o temível goleador, homem excessivo, Di Pace era mesmo o melhor jogador de sempre, Eusébio incluído.
Perdido pelo Belenenses, na última jornada do campeonato, em 1956, o título de campeão, dois anos passaram até ao regresso de Di Pace à Argentina. Ficou por cá o perfume que criaria a lenda. E quis o destino que eu pudesse reencontrar, em 2004, o meu ídolo de criança, que retornou a Lisboa, aos 77 anos, em romagem de saudade. Em Belém, foi homenageado e deu até uma histórica volta de honra ao Estádio do Restelo, que nesse dia de Maio quase se encheu, como que por milagre, para ver o Belenenses salvar-se da descida de divisão. Em 46 anos, muita coisa mudara.
Tive então a felicidade de ver o jornalista Fernando Dias entrar na redacção do Record com o Di Pace. E lá pudemos reviver a glória da década de 50 e fazer com o Miguel uma 1.ª página, que ele levou, emoldurada. Depois, foi o sentido abraço, que sabíamos de despedida, ao mito azul que nos deixou, há dias, mas que ficará comigo até ao final do tempo. Adeus, maestro!
Parece que foi ontem, Sábado, 21MAI15
O dia em que me despedi de uma lenda: Miguel Di Pace
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