Tenho um amigo que passa a vida no colégio do filho a queixar-se que o miúdo, de 10 anos, se esquece de roupas e outros objectos na sala de aula ou no recreio e que as coisas nunca aparecem. A explicação é simples: há papás que aceitam que os meninos levem para casa, e não devolvam, aquilo que não lhes pertence.
É essa falta de condenação social pelo roubo a faceta mais grotesca do vídeo do assalto ao armazém do Vitória de Guimarães, exibido mil vezes em todas as estações e que só foi batido, na exaustão, pelas imagens – exclusivas do CM – do bárbaro ataque de um polícia a uma família, à saída do estádio.
Enquanto o pai da principal vítima era esmurrado e os netos choravam, “pessoas de bem” regressavam a suas casas carregando tranquilamente o produto do saque. Só não percebo o cuidado de alguns canais em desfocar as caras dos gatunos, pois é bom que amigos, vizinhos e colegas de trabalho conheçam o calibre dessa gente – e tratem de esconder as carteiras. Desgraçado país.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 23MAI15
Pessoas de bem? Tão ladrões como outros
P