Pois é, enquanto o FC Porto, com o seu tão cantado superplantel tem de construir uma equipa – só cinco dos 14 jogadores que atuaram no Dragão contra o Boavista pertenciam ao grupo portista na época passada – o Benfica, com a sua suposta minicrise, resolveu o problema criado pelo Moreirense recorrendo aos pesos-pesados.
Sendo verdade, não sei se os patrões tradicionais da turma encarnada teriam chegado a aparecer se, antes, não tivesse surgido o momento de inspiração de Eliseu, com aquela bomba que deu o empate e começou a abrir brechas num muro que, havia 10 minutos, perdera um dos seus suportes.
Curioso é que, em 2007, após uma época de ouro de Jorge Jesus no Belenenses – 5.º lugar na liga e final da Taça de Portugal, “resolvida” para o Sporting, por Liedson, a três minutos do fim… – o então jovem Eliseu, “patinho feio” azul desde 2002, teve de procurar trabalho em Málaga, pois no Restelo, ao contrário, por exemplo, de Ruben Amorim, não merecia ser titular para Jesus. Apesar de não faltarem sinais de uma qualidade que acabou por se impor na liga espanhola.
Se em algum pormenor discordei de Paulo Bento foi na falta de oportunidades dadas a Eliseu, futebolista polivalente, de boa capacidade física e magnífico pé esquerdo – e tremendamente eficaz no remate, como ainda ontem se confirmou.
Há um ano, podia ter vindo para o Benfica e a hipótese perdeu-se, mas agora o perfil “multifunções” e a experiência fazem dele uma peça fundamental para um técnico que, tendo fama de não apostar nos jovens, tem o proveito de saber valorizar jogadores que se arriscariam a passar ao lado de uma excelente carreira. Como ninguém é profeta na sua terra, Eliseu deixou primeiro os Açores, depois o Restelo e por fim Málaga – tudo para chegar a um grande clube e cumprir o seu destino.
Canto direto, Record, 22SET14
Eliseu, o profeta
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