Em apenas um ano, a SAD do Belenenses reduziu o passivo de 10 para cerca de 8 milhões de euros, um trabalho ciclópico. Mas a boa gestão de Rui Pedro Soares não apagou as irresponsabilidades do passado e os credores – pouco dados a comover-se com boas práticas – exigem receber de imediato 7,2 milhões dos 8 da dívida, o que levou a administração da sociedade azul a requerer, e bem, o Processo Especial de Revitalização, vulgo PER. E o Tribunal de Comércio de Lisboa já nomeou o administrador judicial que terá, a partir de agora, com a sua santa ignorância futebolística, o poder de decisão – seja sobre a compra de atacadores para as botas, seja sobre a contratação de jogadores.
O que se passa no emblema do Restelo é uma amostra do que sucede com a generalidade dos clubes portugueses e em particular com os chamados grandes – como ontem aqui sublinhou o jornalista Bernardo Ribeiro. Os três baluartes do nosso desporto são grandes pela popularidade e pelos títulos, mas são grandes também pela dívida, que num caso alcança os 500 milhões de euros e que, no conjunto, ultrapassa os mil milhões. Caminham para o abismo, felizes e contentes.
O Sporting parece ter sido o primeiro a ganhar juízo, quando Bruno de Carvalho herdou de Godinho Lopes a ruína e enfrentou o monstro com pragmatismo e coragem. A seguir, o FC Porto aproveitou o êxito da política de valorização de ativos e da sua colocação no mercado por valores significativos para tentar baixar os custos, quer descobrindo treinadores relativamente baratos mas com potencial – e enganou-se com Paulo Fonseca – quer com jogadores de segunda linha que pudessem crescer – e falhou com Josués, Licás e outros.
O Benfica ficou para o fim, ao perseguir – e conseguir – o título, graças ao investimento na qualidade do plantel, mas já travou, perante a dramática situação financeira que a queda do BES veio agravar. O problema é que os reforçozinhos nada reforçaram e que o FC Porto, perante o horror da última época, voltou a ganhar alento para gastar e ficou com um plantel temível…
Luís Filipe Vieira vive um dilema: se não investir, vai perder no campo, se investir, perderá nas contas. Tal como aconteceu com o país, as empresas e as famílias, aproxima-se o dia em que clubes e SAD’s terão diante de si a realidade.
Canto direto, Record, 9AGO14
O dilema de Luís Filipe Vieira
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