A oportunidade há 13 anos aguardada por uma
das mais poderosas associações portuguesas, o MIRP, Movimento de Invejosos e
Ressabiados Persistentes, pode estar aí: José Mourinho parece ter entrado no
ocaso! Estou convencido que ainda não será desta que essa gente viverá um
período de “realização” na sua triste existência, mas a verdade é que as duas derrotas
consecutivas do Chelsea lhe abrem algumas perspectivas.
Reconheço que me enganei com o relativo
insucesso da jornada madridista de Mou e com a previsão de que o técnico de
Setúbal seria o “Ferguson do Real Madrid”. A aposta tinha riscos, demasiados
até, e minimizava o peso de duas realidades: ao contrário do Manchester United,
o Real é um clube de grandes exigências, muitos amores e ódios rápidos e
assassinos, e ao contrário de Sir Alex, um profissional sereno e adepto do “low
profile”, Mourinho é um protagonista, um homem controverso, um polemista
irreprimível. A estabilidade desse casamento era quase impossível e só poderia
resultar, como resultou, em divórcio.
Ignorando essas realidades, convenci-me que
os merengues seriam a instituição à medida da ambição de Mourinho – se há
emblema com o qual se consegue ganhar tudo ao longo de uma década é o do Real –
e o português seria também o treinador adequado às pretensões desmedidas dos
“blancos”, como provavelmente a presente temporada confirmará. Mas não foi
assim e o maior prejudicado terá sido o técnico do Chelsea.
Pelo prestígio de que goza e pela exigência
que as suas próprias exigências impõem, o que Mourinho não precisava era de ter
de construir uma equipa em dois meses. Jogadores a acusarem o peso da veterania
– Terry, Essien, Lampard, Cole ou Eto’o – e jovens talentos com escassa maturidade
– Van Ginkel, Hazard, Oscar, Schurrle ou De Bruyne – não formam um onze sólido sem
trabalho duro e muitas semanas, alguns avanços e recuos, não pouco sofrimento e
inúmeras contrariedades.
Ao vestir o fato do Super-Homem, que tudo
alcança em qualquer circunstância, Mourinho desafiou a sua boa estrela. E as
estrelas, como sabemos, duram barbaridades mas não são eternas.
Canto direto, crónica publicada na edição impressa de Record de 21 setembro 2013