Vi a primeira versão de
“Gabriela”, em 1975, de princípio a fim. Estávamos no tempo em que o país ainda
parava por alguma coisa e papéis como os de Nacib, Maria Machadão, Tonico
Bastos, coronel Melke ou Mundinho, interpretados por actores geniais – e permito-me
distinguir, entre todos, o lendário Paulo Gracindo na pele do coronel Ramiro
Bastos –, deixaram-nos uma marca para a vida.
Mas não vale a pena voltar ao
passado porque esta “Gabriela” nada deve à anterior. Ary Fontoura e José Wilker
são repetentes de luxo, naturalmente em personagens diferentes, e mesmo tendo
perdido agora interpretações únicas – casos de Nívea Maria, como Jerusa,
Elisabete Savalla, como Malvina, e em especial Sónia Braga, insuperável como
Gabriela – esta versão honra os pergaminhos da Globo em matéria de novelas.
E a reunião de há dias em
casa de Ramiro Bastos, a pedido de um Nacib obcecado com o “quero ser corno
não”, atingiu um nível sublime, com António Fagundes a dar aula no pátio dos
deuses. Quem gosta da arte de representar não pode deixar de ver “Gabriela”.
Antena paranóica, publicado na edição impressa de Record de 29 dezembro 2012