Alexandre Pais

Antena paranóica: lamúrias da crise

A

Perdida a tradição das
verdadeiras reportagens – por falta de vontade, recursos e retribuição em
audiências – os canais de TV dedicam-se aos trabalhinhos sazonais. E com o
Natal por perto multiplicam-se as entrevistas de rua, com pessoas a dizer o que
lhes vem à cabeça e os comerciantes a repetirem a lengalenga de há 30 anos: não
se vende nada de jeito, isto está uma desgraça.

Aos temas de ocasião, como o
Carnaval ou a Páscoa, as férias ou o regresso às aulas, as eleições ou o
aumento dos combustíveis, as cheias ou a seca, juntou-se há tempos esta
estúpida crise permanente, que permite arranjar, a toda a hora de um qualquer
dia, assunto para encher chouriços.

Os portugueses não resistem
ao apelo de uma câmara apontada ao rosto e falam do que for preciso, até do que
nada entendem. E nesta época de penúria, então, um burro faz de doutor.
Basta abrir a boca e despejar umas lamúrias, mesmo que a carteira ainda resista
à crise. O que é preciso é, nesses segundos de glória, deixar família e
vizinhos esmagados – uma pobreza que vem de dentro.

Antena paranóica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 22 dezembro 2012

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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