Nunca compreendi que as pessoas muito bem sucedidas na vida se não sentissem não digo apenas obrigadas, mas mesmo motivadas para devolverem à sociedade parte, por pequena que seja, do que ela lhes deu. Não me admira, no entanto, que alguns novos-ricos, de personalidade boçal, evidente ou disfarçada, ignorem a solidariedade e neguem ajuda aos desfavorecidos. É da sua génese.
Já me surpreende que homens conscientes dos problemas e das dificuldades não queiram fazer da generosidade uma bandeira. E estranho, por exemplo, que José Mourinho não seja um praticante regular – ou que, sendo, o esconda – do apoio a causas e instituições. Vejo-o com perfil para patrocinar uma grande obra social na sua martirizada Setúbal, sendo certo que também lhe assiste o direito de fazer do seu dinheiro o que bem entender e de não dar satisfações a ninguém.
Mas eis que esta doação da Bola de Ouro 2010, que a FIFA lhe atribuiu, à Fundação Bobby Robson – compensa a minha desilusão quase a 100 por cento. Porque não é um prémio qualquer esquecido pelo tempo e abandonado na estante de uma segunda casa, é sim a verdadeira coroa de glória do melhor treinador do Mundo – um troféu insubstituível.
Ao juntar a gratidão à solidariedade – afinal, Robson foi quem abriu a porta – José Mourinho revela, enfim, que dentro da “máquina de guerra” em que se transformou continua a bater um coração. Chapeau!
Passe curto, publicado na edição impressa de Record de 21 setembro 2011