Quando os jogadores querem, o futebol acontece. E ontem, a tarefa dos dois emblemas rivais não era fácil. O Benfica está massacrado com jogos, não partidinhas a feijões, mas confrontos “a doer”, com muita pressão, muita descarga de adrenalina, muito esforço nas pernas. O Sporting está martirizado por uma época e meia de decisões tão erradas que até quando parece perto de conseguir qualquer coisa a sorte faz questão de o abandonar.
Os encarnados, uma vez mais em desvantagem no marcador – repetiu-se a saga de Estugarda e Marítimo – precisaram de recorrer às forças de reserva para o impressionante pressing final que os levou à vitória, em boa parte ajudados por uma defesa fantástica de Roberto, aos 89 minutos, a suster um remate de Matías que podia ter dado outro destino ao jogo e escrito a história de maneira diversa.
O Sporting merece, de facto, que se repartam as honras da noite. Somou o oitavo desafio sem ganhar, é certo, mas há muito que não víamos a equipa com este ritmo, com esta atitude, com este futebol. Como se os seus profissionais quisessem provar aos adeptos que outros fizeram as asneiras, outros chegaram e partiram, outros não deviam sequer ter passado por Alvalade, e que mesmo assim eles, em campo, no território do seu grande antagonista de sempre, eram capazes de arregaçar as mangas, de superar toda essa carga negativa e de discutir o resultado até ao fim – não por sorte, mas por terem, essa é a verdade, indiscutível capacidade.
Foi com um adversário que recuperou os seus índices de rendimento e de competitividade da temporada transata que os leões se bateram, não com um opositor diminuído ou vacilante que lhes deu uma oportunidade.
Vale a pena ver até onde vai este Benfica remoçado pela arte de Jesus e com que Sporting iremos contar nos próximos três meses, com José Couceiro a apanhar os cacos. A vida não acaba só porque lá mais para cima um cometa insensível deixa um rastro destruidor das ambições alfacinhas.
Minuto 0, a publicar na edição impressa de Record de 3 março 2011