Alexandre Pais

Vamos jogar com a Nigéria para quê?

V

Foi penoso, como infelizmente tantas vezes sucede, ouvir as ‘perguntas’ que jornalistas e pés de microfone fizeram ao selecionador nacional logo após o anúncio dos convocados para o Mundial. Teve de chegar a intervenção de ‘Record’ para que Bruno Fernandes desprezasse a discussão inútil do ‘porquê este e por que não aquele’ e Fernando Santos fosse confrontado com aquilo que mais pode afetar a Seleção: a sobrecarga de compromissos a que nas derradeiras semanas foi submetida a maioria dos jogadores.

Acrescentaria não fazer o mínimo sentido, conhecido que era o calendário ‘criminoso’ de outubro/novembro – e do próprio Mundial, mas aí é o que é – marcar uma dispensável partida contra a Nigéria na única semana disponível para a recuperação física dos convocados. Vamos correr o risco de deixar em terra companhia para os lesionados Diogo Jota e Pedro Neto? Sim porque nem todos têm o estatuto – e a capacidade de gestão da sua condição física – de Pepe e Cristiano Ronaldo: um a voltar a jogar apenas no finzinho do desafio do Bessa e o outro a ter o azar de cair ‘doente’ antes dos dois últimos jogos do United. Melhor assim porque sem eles o nosso Mundial seria um Mundialzinho.

Não, não vou ficar para trás. Após todo o bicho careta se ter pronunciado sobre a escolha dos 26, quero produzir breves mas igualmente judiciosas considerações. Quanto aos centrais, já aqui adiantei que levaria a experiência de Fonte em vez da verdura do ‘menino’ – como lhe chamam, extasiados, os narradores de tipo saloio. A seguir, optaria por Mário Rui e não por Raphael Guerreiro, enorme jogador mas que não tardará em estar de baixa. Aliás, é por isso que compreendo a ausência de Renato Sanches. E lá na frente, não havendo Rafa nem Jota, talvez arranjasse uma vaga para Gonçalo Guedes – sempre teríamos uma espécie de extremo. À custa de Gonçalo Ramos? Não, teria de ser um médio, só não estou a ver qual…

Também a propósito da ‘injustiça’ da não convocação de futebolistas do Sporting não consigo ver quem sairia do grupo para entrar qualquer deles… nesta altura. Aliás, acontece com Inácio, Pote ou Trincão, por exemplo, o mesmo que com Moutinho, Guedes ou Podence: a época não está a correr bem aos respetivos clubes – mais ao Wolves, ‘herança’ de Bruno Lage – e um pouco, igualmente, porque o seu rendimento não é o dos melhores tempos. Mas convocados com origem ou passagem pelo Sporting é o que não falta nos 26!

Se a reincidência, para nem falar na multi-reincidência, fosse de facto punida como agravante e Sérgio Conceição tivesse apanhado agora três jogos de castigo, em vez de apenas um mais uns trocos – e de seguida quatro, cinco e por aí fora – era garantido que depressa se acalmaria. Ainda que, em boa verdade, existam árbitros capazes de tirar a paciência a um santo.

Parágrafo final para Marcano, que depois de uma lesão grave, de uma recuperação dura e de uma aparente impossibilidade de retomar o seu nível, voltou a ser titular do FC Porto, ‘atirando’ até, no sábado, David Carmo para fora dos convocados. É sempre arrebatador ver um ‘condenado’ ao fogo eterno sofrer, resistir, trabalhar e regressar dos infernos. Chapeau!

Outra vez segunda-feira, Record, 14nov22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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