Perdido na noite alta da SIC Notícias, ao alcance de uma minoria, “O Eixo do Mal” deve parecer, aos mais distraídos, um programa dirigido exclusivamente a intelectuais. É pena.
Intoxicado por serviços noticiosos em que os temas importantes, em particular os que lhe doem no osso, se diluem em poças de sangue, o telespectador médio muito teria a ganhar – em capacidade de entendimento da realidade do país e das malfeitorias a que o submetem – se assistisse ao debate moderado por Nuno Artur Silva.
Daniel Oliveira, Pedro Matos Lopes e Clara Ferreira Alves, “provocados” pelo humor corrosivo de Luís Pedro Nunes, fazem de “O Eixo do Mal” um repositório de histórias – marcadas por uma lógica de esquerda, mais implacável, ou por uma visão conservadora, mais serena, e contadas meio a sério meio a brincar – que ilustram a pequenez da sociedade portuguesa e a fraca qualidade dos seus protagonistas.
Respiram lucidez e desassombro aqueles 50 minutos em que se desmontam lóbis e negociatas, se denuncia o ridículo ou o absurdo de tantas situações e se ouvem as verdades que outros artistas da palavra distorcem e manipulam – sem terem em conta que o beco sem saída em que estamos metidos irá condicionar a nossa vida para sempre.
Antena paranóica, publicado na edição impressa do Correio da Manhã de 6 novembro 2010