Falido e com mil e 400 milhões de euros de passivo – valor próximo do ‘acumulado’ conjunto dos três maiores clubes portugueses – o Barcelona conseguiu vender alguns ativos e reduzir os salários de outros para fechar com balanço positivo a época de 2021-22 e meter com isso o ‘fair play’ financeiro na gaveta. E mal se iniciou a nova temporada logo voltou a gastar à tripa forra: em dois ou três dias, voaram cerca de 115 milhões para juntar Raphinha e Lewandowski à caterva de craques que já lá tinha. E ainda estaria disposto a dar 85 milhões por Bernardo Silva – a fazer fé em alguma imprensa catalã, exultante com o remoçado poder da tesouraria ‘culé’.
Em qualquer empresa, quem gere arrisca o seu emprego se terminar o ano sem dar lucro ao patrão ou aos acionistas. Já o futebol é um negócio diferente e um arrivista que dependa da ilusão que conseguir criar no ‘maralhal’ precisa gastar dinheiro, muito dinheiro – e quem vier depois que feche a porta. Benfica e FC Porto são líderes europeus, e por certo mundiais, na venda de jogadores nos últimos dez anos. Se não vivem hoje na abastança é porque os adeptos entram em êxtase com títulos e odeiam contas certas. Outros emblemas, mais modestos e mais focados na realidade – como o Paços de Ferreira, para dar apenas um exemplo – há muito que estabeleceram a regra suprema para os seus dirigentes: quando saem, deixam o ‘deve’ e o ‘haver’ zerado, ideia de gente retrógrada.
Voltando à Catalunha, vejamos o bizarro caso de Frenkie De Jong, que se viu forçado a ‘concordar’ com a redução do salário porque não havia dinheiro e logo deu consigo na situação de dupla vítima. É que o Barça acordou com o Manchester United a sua ida para Old Trafford e tem procurado convencer o holandês a aceitar uma transferência que meteria nos cofres de Laporta nada menos de 85 milhões de euros – os tais que pretenderia investir em Bernardo Silva. Mas De Jong está como Cristiano: jogar a Liga Europa, não, obrigado. E assim temos duas trepidantes ‘novelas’ para animar a pré-época!
A propósito de Cristiano, veja-se a inveja que o seu sucesso suscita em meia Europa, com a lorpa complacência daquela comunicação social que está refém da especulação: não há dia em que CR7 não seja ‘oferecido’ a um grande clube e não passa outro sem que seja ‘rejeitado’! Pobrezinho, só marcou 32 golos na temporada passada, com tantos craques por aí a chegarem tranquilamente aos 40 e aos 50…
E se alguém tivesse dúvidas de que a qualidade dos dirigentes do futebol português está muito longe da exibida por técnicos e jogadores, o processo disciplinar de que será (?) alvo Fábio Coentrão, retirado há mais de um ano, dissiparia totalmente essas dúvidas. A fase de inquérito durou… 14 meses! Há coisas em que não se acredita.
O derradeiro parágrafo vai para duas seleções nacionais: a do andebol sub-20 e a do futebol feminino. A primeira por ter alcançado a final do Europeu, sinal da extraordinária evolução da modalidade entre nós e do meritório trabalho feito por atletas, técnicos e dirigentes. Já as nossas futebolistas estão igualmente de parabéns, mesmo depois de a goleada de ontem ter confirmado que há ainda muito caminho para se fazer caminhando. Duplo chapeau!
Nota – Na versão original desta crónica, que acabo de corrigir aqui e infelizmente já não posso emendar na edição em papel, ‘misturei’ Frenkie de Jong com Luuk de Jong, ambos holandeses mas nem sequer irmãos. Só me animo com este sinal de que o tempo não perdoa porque me dizem que depois dos 80 tudo melhorará… As minhas desculpas.
Outra vez segunda-feira, Record, 18jul22