Uma suposta entrevista de Jorge Jesus no Brasil incendiou os meios do futebol e aumentou o tráfego no esgoto das redes sociais. Tudo porque, em boa verdade, JJ foi apanhado numa espécie de escuta: estava a falar à vontadinha e não contava que tudo viesse a público. É o que acontece aos ingénuos que andam nisto há pouco tempo como é o caso de Jesus…
Não pertencendo a corporações, nem as respeitando para lá do que merecem, sinto dificuldade em ‘encarneirar’ e ir atrás dos espíritos sensíveis que têm manifestado ‘indignação’ – na generalidade falsa porque a sua gamela é idêntica – pelas considerações do antigo técnico do Benfica. Compreendo, sim, que Abel Ferreira se sinta melindrado. Depois dos êxitos obtidos no Palmeiras deve custar saber que, para JJ, Vítor Pereira é o melhor treinador português a trabalhar no Brasil…
O que passa incólume pelo crivo apertado das virgens ofendidas é a dúbia (?) posição do Flamengo. Quando Jesus diz que só pode esperar “até ao dia 20” é o gato escondido que põe o rabo de fora, já que se torna evidente a existência de contactos e de negociações. É, além do mais, um prazo estabelecido por quem está em condições de o impor. Ou seja, os dirigentes do Mengão, face aos fracos resultados do treinador que ‘inventaram’ e pressionados pelos adeptos para fazerem regressar o ‘milagreiro’ – “olé, olé, olé míster, míster” cantava a ‘galera’ após a última derrota frente ao Botafogo de Luís Castro – estarão há muito a tratar do assunto pela calada. Calada até JJ ter falado de mais, claro.
Estamos, portanto, perante simples opiniões de Jorge Jesus e o seu direito – como, afinal, o do clube carioca – a resolver a vida num mundo-cão em que sobram ódios e traições, e no qual a regra que sempre se respeita é a do salve-se quem puder. E não me venham com a treta da falta de ética de JJ quando a vítima principal deste enredo, Paulo Sousa – que chegou ao Rio gabando-se de métodos ‘revolucionários’, o início do suicídio – deixou de repente a seleção da Polónia sem treinador e o amigo Boniek ‘pendurado’, para ir a correr assinar contrato com o Flamengo… Ou a falta de ética de uns não é a mesma de outros?
Invalidar um golo soberbo como o de Darwin Nunez por dois centímetros é um atentado à beleza do jogo. Já aqui o defendi e mantenho: abaixo dos 10 centímetros devia considerar-se o infrator ‘em linha’ e validar-se o lance. Lembram-se do ‘golo’ de cabeça de Cristiano no último jogo pela Juventus ou do que lhe foi anulado, há uma semana, na despedida de Old Trafford? Pois é, tal como está, o regulamento do VAR é inimigo do futebol.
O parágrafo final vai para Sérgio Conceição, para o seu estilo de liderança e para o seu espírito beligerante e controverso, para a sua inteligência e para os seus excessos, personificando nele toda a coragem, tenacidade, competência e capacidade de resistência ao sofrimento que sempre estarão presentes no tempo de balanço das grandes conquistas desportivas. Sim, o FC Porto é um justíssimo campeão não depois de ter sido beneficiado ou roubado, não por causa da sorte ou do azar, não porque conluios, espertezas, sistemas ou forças ocultas lhe ofereceram o título numa bandeja de prata, mas simplesmente porque jogou mais e foi melhor. Chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 9mai22