Nem a saída de Carlos Queiroz fará abrandar a intensidade do coro de contestação a Gilberto Madaíl e à direção da Federação Portuguesa de Futebol, com Amândio de Carvalho como bombo da festa.
Estão lá há muito, há demasiado tempo, para que nos lembremos de tudo o que deram ao futebol português. Concentramo-nos naquilo em que falharam para alimentar o desejo, quase irreprimível, de os mandar passear os netinhos. A ingratidão dos homens é assim.
A verdade é que Madaíl acaba de fazer nova demonstração de capacidade no processo de escolha do sucessor de Queiroz. Desde logo, ao “pensar grande”, com a iniciativa – autêntica ou para a galeria – de tentar a colaboração pontual de José Mourinho, o que tornou o técnico madridista no entusiasta da Seleção que visivelmente não era, valorizando ao mesmo tempo o novo selecionador, qualquer que ele fosse, transformado assim no vizinho da frente: não sendo Mou, só pode ser… Paulo Bento.
O antigo treinador do Sporting, apontado para o cargo ainda antes da deslocação de Madaíl a Madrid, reforçou ontem a posição do presidente federativo, e a sua decisão, ao confirmar, em conferência de imprensa, o pragmatismo e a frontalidade revelados ao serviço dos leões.
Desde a humildade manifestada com o “orgulho de ser opção a seguir a Mourinho”, até à forma como abordou a sua relação futura com Carlos Martins, passando pelo desassombro com que enfrentou tanto as perguntas difíceis como as cretinas, Paulo Bento saiu do exame aprovado com distinção.
Chegou a altura de termos um selecionador que coloca as críticas no devido lugar – não passam, afinal, de simples opiniões – delas retirando apenas o que lhe interessa e passando uma esponja sobre o resto. Um selecionador que sabe que vai estar no centro do vulcão, atacado pelo que fez e pelo que não fez, pelas escolhas, pela tática, pelo resultado, pelo cabelo, pela tranquilidade, pela chuva e pelo sol.
Um selecionador que diz não se importar que o critiquem desde que apoiem os jogadores que ele escolheu é um homem de caráter e como tal já merece respeito. Mas pode, e vai ter, muito mais.
Editorial de Record, publicado na edição impressa de 23 de setembro de 2010