António Costa não tem perdido nem ganho os seus debates, pois segue igual a si próprio, repetindo a narrativa dos últimos seis anos. Quem veio subindo de nível foi Rui Rio, fiel ao nobre princípio de colocar à frente dos interesses imediatos o futuro do país.
Mas ao optar pela moderação – quando muitos lhe exigiam murros na mesa – o líder do PSD pode estar a cair num erro idêntico ao que ‘tramou’ Passos Coelho em 2015: querer aplicar na legislatura o que Costa anuncia para já: começar a reduzir a carga fiscal. De que servirá a Rio não haver cedido minimamente à demagogia necessária para vencer eleições, se com isso ficar longe do poder, sem hipótese de gerar os seus ventos de mudança?
Claro que a melhoria do desempenho de Rio empolgou a larga maioria dos analistas na TV, que viram no rescaldo do confronto com Costa aquilo que de facto desejam. Acontece que esses entendidos não são o eleitorado e, feliz ou infelizmente, três sondagens deram esta semana uma vantagem tão folgada ao PS que só um terramoto a alteraria. E ao contrário do que sucedeu em Lisboa, nas autárquicas, no dia 30 os votos do PS não fugirão para o PCP. Só um perigo ameaça Costa: a vontade, que não parece pouca, de ficar em casa.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 15jan22