No tempo da minha breve passagem pela área da moda e dos modelos, Pedro Lima ainda não tinha chegado. E o facto de nunca lhe ter dito sequer “bom dia” impede-me de o chorar como se tivéssemos sido íntimos. Sobrou quem.
Mas a sua morte trágica fez-me redescobrir a razão que me levava a gostar dele. É que não sendo um “ator com escola” – onde já vai o conceito! – e tendo como origem, ainda por cima, uma atividade em que estupidamente se julga que as pessoas não primam pela inteligência, Pedro Lima teve de lutar mais para provar que não era apenas um tipo elegante que chegou à televisão por ser bonito.
No seu percurso, revelou-se sempre um ator bem preparado, multifacetado, superprofissional e com uma notável capacidade histriónica. E no desempenho de papéis tão diversificados exibia o talento que falta a alguns tontos que se vendem nas páginas cor de rosa por mudarem muito de namoradas. Até nisso, Pedro Lima se mostrou diferente e melhor.
Foi o trabalho de construção de uma carreira séria e consistente, bem como a forma – que só o talento pode gerir – como sabia apagar o seu “eu” para que os personagens fossem “eles”, que me faz hoje recordá-lo com a admiração que sinto pelos grandes. E ele era.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 27jun20
Adeus, Pedro
A