Não leitor, não é engano, hoje, quarta-feira, é para mim outra vez segunda-feira porque o meu fim de semana se prolongou com uma viagem a Barcelona, onde tive o privilégio de assistir à primeira mão da Supertaça de Espanha e de encontrar, em Camp Nou, um ambiente muito semelhante ao que me costuma receber no Santiago Bernabéu: intenso, vibrante, envolvedor e mesmo comovente. É a paixão pelo futebol e o amor – e a dedicação extrema – a um emblema a unir as pessoas e a emocioná-las: foi uma noite inesquecível até para o empedernido madridista que sempre serei.
Não é preciso entender muito de futebol, basta acompanhar regularmente pela TV os jogos de La Liga, para verificar a enorme diferença, para pior, dos árbitros espanhóis relativamente aos portugueses. Se para uma partida da Supertaça se escolhe o quarto classificado da temporada anterior e ele se revela tão mau como Burgos Bengoetxea, como serão os outros?
Em Portugal, a generalidade dos árbitros adota uma postura pedagógica, que mistura em proporções corretas as atitudes de firmeza e autoridade com as pacificadoras e dialogantes. Quantas vezes já vimos os nossos juízes de campo a interpor-se entre jogadores desavindos, separando-os e evitando com isso consequências desastrosas para os artistas e para o espectáculo? Ao contrário, o tal de Burgos assistia passivamente às picardias e afastava-se como que esperando novas oportunidades para se afirmar a exibir cartões.
Não vale a pena discutir outros casos do jogo, que foram da severidade com que o apitador puniu o contacto ligeiro mas escusado de Navas a Suárez, à vista grossa que fez ao derrube de Messi por Sergio Ramos. É suficiente atentar na sua incompetência, ou má fé, na expulsão de Cristiano Ronaldo. Como se castiga um jogador com um segundo amarelo após um lance dividido, em que ele se enrola com a bola e com o adversário, e cai na área sem qualquer intuito de enganar o árbitro?
Percebo que Burgos quisesse ficar famoso por expulsar um avançado que já marcou 11 golos ao Barça em Camp Nou – nenhum outro jogador do Real Madrid conseguiu tal proeza e duvido que em 60 anos de existência do mítico palco de Les Corts outro futebolista visitante haja ido tão longe. Mas não se é árbitro para ficar na história e a atuação de Burgos foi uma vergonha que prejudicou Cristiano, o Real Madrid e o próprio futebol.
Dito isto, manda a verdade que se acrescente que a incompetência de Bengoetxea daria apenas um jogo de castigo ao português – que poderia até ser-lhe retirado hoje – não fosse o seu ato irresponsável de empurrar o árbitro. Assim, não estará domingo no arranque da liga e não participará esta noite no que parece vir a ser mais uma comemoração no Bernabéu – atenção a Messi! É pena que Cristiano não tenha tido em conta que nunca se toca num árbitro, ainda que ele seja um mono como Burgos. Que lhe sirva de lição.
Outra vez segunda-feira, Record, 16AGO17
Cristiano é vítima de si próprio
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