Imagem muito própria do futebol português aquela que a TV nos deu no sábado: Silas e o adjunto Zé Pedro, técnicos sem carimbo oficial, a trocarem pontos de vista no Jamor, dentro da cabina de acrílico do banco de suplentes. Cá fora, o porta-voz autorizado, Tiago Teixeira, treinador principal faz de conta, transmitia para o campo as instruções do boss. Foi este trio de raposas de currículo ainda modesto que montou a teia tática em que o Belenenses SAD – hoje, por respeito à fantástica atitude dos jogadores de cruz ao peito, esqueço que se trata, de facto, do Codecity FC – enredou, de forma inesperada mas perfeita, Rui Vitória e o Benfica.
Sente-se bastante nos encarnados a não titularidade de Jonas. E levanta-se uma dúvida: está ou não em condições físicas para integrar o onze inicial? Se está, pois que jogue quanto antes – só assim poderá voltar ao que foi. Se não está, então o que faz no Benfica? Nada inocente foi a resposta que deu ao repórter que lhe perguntou se não gostaria de jogar mais: “Estou à disposição”, uma frase seca e curta que surgiu como uma crítica às opções do treinador.
A realidade encosta, na verdade, Rui Vitória às cordas. A equipa perde duas partidas consecutivas em que não consegue marcar. Onde está o temível caudal ofensivo do Benfica? A desculpa da falta de sorte, que existiu mas que evitou também que os azuis chegassem ao 3-0… – e disso ninguém fala – conta pouco para os adeptos, que já compreenderam que o ciclo de Vitória se aproxima do fim, amanhã, talvez em janeiro, se calhar só em maio. Daí se passou à feia fase dos assobios e insultos a um homem que tem trabalhado com entrega e obtido excelentes resultados. Mas nada dura para sempre e a sina de um treinador é por vezes maldita.
Os dias seguem difíceis igualmente para o Real Madrid, goleado em Camp Nou e já a sete pontos da liderança. Ontem, tudo aconteceu com “normalidade”: Marcelo tornou a marcar – são dele três (!) dos últimos quatro golos dos madridistas – e lesionou-se, Varane somou asneiras à gorda coleção da época e saiu com “moléstias” (uma novidade!), Bale – “um zero à esquerda” como se escreveu na “Marca” – passeou-se de novo em campo até alguém se lembrar de o substituir, Courtois transformou-se num saco de golos, Ramos, o chefe dos donos do balneário, não pode com uma gata pelo rabo, e Lopetegui enterrou os pregos que lhe faltavam no caixão – o seu rosto, no início do clássico, era já o de um derrotado. Ou seja, não devia sequer lá estar.
Melhor não corre a vida a José Peseiro no Sporting. Regressei a Alvalade para ver o duelo com o Arsenal e tive duas meias-surpresas. Uma foi a forma fenomenal como as claques leoninas continuam a apoiar a equipa, independentemente do que esteja a ser o desempenho – daí a sua indiscutível importância. A outra foi a animosidade contra Peseiro e todas as decisões que tome, certas ou erradas. Quando, em cima do intervalo, Ristovski se magoou e se arrastou para fora do terreno – o Sporting carregava sobre a baliza adversária e ia ser marcado um canto a seu favor – o treinador saltou do banco e mandou o jogador reentrar em campo. Ouviu então uma enorme assobiadela, que mais não foi do que o aproveitamento da oportunidade para a plateia descarregar sobre ele a sua frustração. Ora, o que temos no reino do leão é um conjunto arrumado, que luta muito e não consegue dar mais – basta para o Boavista, não chega para o Arsenal. A culpa será de Peseiro ou do Nero que incendiou Roma?
O parágrafo final é para celebrar o nono triunfo de Roger Federer no torneio de Basileia, o seu 99.º título ATP. Agora, segue-se Paris, onde o suíço reencontra os arquirrivais Rafa Nadal e Novak Djokovic. Mais uns diazinhos em cheio para os fiéis como eu.
Outra vez segunda-feira, Record, 29OUT18
Vitória, Peseiro, Lopetegui: não há treinadores para sempre
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