Deve ter nascido do vinho a peregrina ideia de tentar substituir as direcções editoriais por tutelas de aprovação prévia do acompanhamento jornalístico dos futuros actos eleitorais.
Felizmente que filhos e netos dos gargantas fundas que fizeram, no passado, o êxito de jornais como o Tal&Qual ou O Independente, herdaram os talentos do serviço público e as misérias da delação, pelo que hoje ninguém consegue ter tosse sem que vizinhos e primas conheçam a marca do xarope.
A golpada de S. Bento pôs de acordo a corporação dormente cujos braços rivais se odeiam. E os directores editoriais fizeram desabar sobre a anormalidade, que ousara pretender decidir sobre a matéria a publicar, uma tal avalancha de indignações que nada mais restou aos aprendizes de feiticeiro do que bater em retirada. Até meteu dó ver o terror nos seus rostos de renúncia aos desígnios do diabo, com renovadas juras de devoção eterna à verdade, à democracia e à Constituição.
Não será a última vez que o sonho de controlar a informação nos ameaça e a próxima tentativa não virá de uma estrela cadente, de um arrivista ou de um falhado, mas da artilharia pesada.
Portugal e o Parlamento foram perdendo, em 40 anos, tribunos que servindo apenas a República barravam os aventureiros. Agora, com a perda de credibilidade das instituições, resta, aos que puderem, a opção de esbracejar para viver.
Observador, Sábado, 30ABR15
Visto prévio na comunicação social: uma ideia saída dos vapores do éter
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