Nesta história do alegado assalto ao correio do Benfica e das supostas mensagens que têm sido divulgadas, não me meto. Primeiro porque nunca enviei um e-mail a qualquer dirigente, pelo estranho facto de nada ter a tratar, e se respondi a algum foi para agradecer a gentileza de um convite a que, seguramente, não correspondi. Nos 10 anos em que fui diretor deste jornal, já o escrevi, não fiz uma viagem paga por alguém que não fosse eu próprio – sim, também nunca viajei por conta do Record – e só vi futebol ao vivo em Portugal nos camarotes da Cofina ou na bancada, com o bilhete comprado. E isso não aconteceu por me considerar melhor do que ninguém, mas apenas pela vontade de preservar a componente antissocial que ao longo da vida me moldou o comportamento.
Em segundo lugar porque as feiras de lixo não me interessam. Sou um simples amante do futebol praticado dentro de campo, um adepto que detesta todo o folclore que o rodeia, desde a falta de civismo das claques à intriga dos bastidores, passando pelo jogo sujo que gera a violência – tudo, afinal, o que seja necessário para retirar o foco dos maus resultados das equipas, hoje umas, amanhã outras. E aqui condenei por diversas vezes a guerrilha fedorenta em que ou se arranjam “provas” ou se forjam uns “papéis” onde se escrevem os nomes a atirar para a lama, pelo que não gastarei mais cinco minutos do tempo de vida que me resta para tecer considerações sobre tal gente: na realidade, são dignos uns dos outros.
Dito isto, há um aspeto da questão a que não sou indiferente: ao crime. Gostaria muito de ver a PJ e o MP levarem a fundo as investigações para que, havendo malfeitores a cair sob a alçada da lei, eles possam ser punidos. É altura de travar a república das bananas em que se transformou o futebol português e de meter na ordem – e se necessário na cadeia – quem anda ou andou a brincar com o fogo.
Com o fogo e com o bom nome de pessoas de bem. No eventual e-mail atribuído a Carlos Janela, e que ele rejeita, são apontadas as iniciais de dois jornalistas do Record, que não sendo da minha geração vêm do meu tempo no ativo. Um deles é o Sérgio Kritinas, que chegou aqui depois de me ter reformado mas que conheci bem no desaparecido “24 horas” e que considero não só incorruptível como sei defensor firme da separação entre o labor jornalístico e as tarefas dos serventuários. E se não tenho dúvidas quanto à probidade do SK, sobre o segundo atingido, o JB, tenho mesmo certezas porque passei muitos anos na trincheira ao seu lado. O Jorge Barbosa desenvolveu na redação do Record, no Porto, não só um trabalho editorial notável, como constituiu um baluarte na contenção do despesismo que herdou. Com a idade que tenho, já não ponho as mãos no lume por ninguém. Abro hoje uma exceção para pôr quatro por estes dois. Acreditem, terão de chafurdar por outro lado.
Outra vez segunda-feira, Record, 8JAN18
Vão lá chafurdar para outro lado
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