A conhecida “arrogância” de José Mourinho, que lhe vem da capacidade e não da prosápia, nasceu muito provavelmente no seu convívio, em Barcelona, com Louis Van Gaal, técnico que junta à sua inegável competência um insuportável peito cheio de vento.
Nas habituais guerras de palavras entre treinadores, que Mourinho habilmente conduz para dar cabo dos nervos aos adversários, o holandês, em lugar de puxar pelos galões e defender-se com silêncio e caldos de galinha, quis antes armar-se em sombra tutelar e lembrou que o seu antigo adjunto era “muito humilde” no tempo em que trabalhava para ele.
Van Gaal pretendeu com isso atingir o caráter de Mourinho, tentando demonstrar que, em Barcelona, sob o seu faustoso comando, o português não só não passava de um subalterno como até abanava o rabo perante o poder e a grandeza do chefe.
Foi feio e com isso o derrotado de ontem conseguiu apenas que o fim de noite em Chamartin constituisse um fardo bem mais pesado do que seria se a sua postura tivesse sido algo do género “aprendeu comigo, dei um contributo para o seu êxito”.
A postura de Van Gaal é infelizmente comum: não são menos os “professores” que se irritam com o sucesso dos “alunos” que os ultrapassaram do que os aprendizes que rapidamente esquecem aqueles que lhes proporcionaram conhecimentos e oportunidades, empurrando-os assim para a fama. A vida é feita de gente dessa.
Feitas as contas, Mourinho consegue a que terá sido a sua melhor época de sempre, ganha três títulos em duas semanas, com três vitórias traçadas a esquadro, com zero golos sofridos e quatro marcados – todos por Milito.
O Inter repetiu em Madrid a tática utilizada para vencer a Roma e o Siena: defesa de ferro, ilusão de controlo do meio-campo pelo adversário, contra-ataque e o argentino a mostrar como é. Tudo atado com um laçarote – cumprimentos lá em casa, Van Gaal.
Minuto 0, publicado na edição impressa de Record de 23 de maio 2010