Já tenho aqui referido a escassez de jornalistas seniores nas redações, ou o seu “aburguesamento”, e o exagerado recurso a estagiários impreparados e de memória curta, chamados à primeira linha depois de lançados às feras sem meios de defesa. Viu-se de novo o resultado dessa realidade quando, num dos nossos canais de TV, se traçou o perfil do desaparecido Adolfo Suárez, o homem que conduziu a Espanha à democracia.
O repórter ignorou, de modo negligente, um momento marcante do percurso do ex-chefe do governo, aquele em que enfrentou, com rara coragem, os golpistas de Tejero Molina que ocuparam, de armas na mão, em 1981, o Congresso de Deputados. A peça de dois minutos foi repetida ao longo do dia, sem que alguém, com mais conhecimento, experiência e talvez pudor, corrigisse, ou mandasse corrigir, o lapso grosseiro.
Por coincidência, na mesma estação, uma reportagem sobre a pobreza, transmitida também “n” vezes esta semana, começava assim: “Passava pouco depois das três da tarde…” Habituemo-nos, a vida é o que é – e acontece que perdemos.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 29MAR14
Uma guerra perdida
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