Escrevo a uma segunda-feira e não é crível que os pilotos da TAP suspendam, antes do final, a greve de 10 dias – e podia ser de um mês porque o seu sindicato é rico e paga-lhes as férias extra.
O tom deste primeiro parágrafo não engana. Sigo, contrariado embora, os 99 por cento de portugueses que estão contra a paralisação. Explico: quando as maiorias são esmagadoras, apetece-me procurar as razões das minorias. E encontro, neste caso, alguma lógica na insatisfação dos pilotos, a quem se abriu a janela das promessas de mundos e fundos para se calarem, aplicando-se depois o hábito nacional: que venham outros pagar e fechar a porta.
O Governo, que tanto mete pés pelas mãos, trabalhou bem desta vez e ajudou a carregar com o odioso para cima dos pilotos. Desde a duração exagerada do protesto, aos prejuízos, calculáveis à TAP e incalculáveis ao País, passando pelo motivo da greve, o dinheiro – numa classe profissional já muito bem remunerada – tudo serviu para fazer dos grevistas uns malandros. Até o único apoio que lhes restava, o da CGTP, foi habilmente transformado, por Arménio Carlos, num apoio a todos os que se opõem à privatização da TAP… Ainda que sejam candidatos a accionistas?
Os primeiros resultados estão à vista: 700 pilotos a aderirem à greve e os outros 300 a ajudarem a TAP a viabilizar 70% dos voos – um fracasso para os grevistas. Mas os resultados piores, para todos aos trabalhadores da companhia, infelizmente, virão lá para o Verão, quando não houver privatização, nem dinheiro para o petróleo. Que farão, então, os senhores comandantes?
Observador, Sábado, 7MAI15
Uma greve que é um beco sem saída
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