Alexandre Pais

Uma breve reaparição, parte 2

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Uma pessoa não se pode reformar, iniciar uma nova vida e arrumar tranquilamente o passado numa pasta guardada nas profundezas do computador. Há sempre um dia em que é preciso voltar aos dias perdidos para recordar lições que não entraram nas cabeças duras dos burros da nação.

A Seleção fez dois bons jogos, com a República Checa – lamento mas não me habituo a mudar-lhe o nome – e com a Turquia, e o labor de Cristiano Ronaldo recolheu aprovação unânime, apesar da rapaziada do costume o fazer tão contrariada que, mal se perdeu com a Geórgia, meteu o nariz de fora para repetir a ladainha que tanto a encanta: o homem está velho, já devia ter dado o lugar aos novos, a equipa com ele não rende, o periquito fugiu da gaiola ou seja lá o que for. Não há pachorra.

Ontem, o vento corria de feição aos destiladores de ódio, a Seleção jogava pouco, Cristiano continuava sem marcar e deu-se até o caso raro de ter falhado um penálti. Eles bem diziam que ele estava acabado! Nada mais lhes interessa. Se Portugal for afastado do Europeu, eles bem avisaram. Não há tristeza, não há deceção, lá bem no fundo daqueles pobres seres sem alma, bom não é que a vida lhes corra bem, bom mesmo é que corra mal aos outros.

O rendimento do capitão da Seleção nem sequer é analisado pelo que luta, pelos espaços que abre, pelos constrangimentos que causa aos adversários, pelo entusiasmo que gera nas bancadas, pelo cimento que é da unidade do grupo de trabalho – como se viu naquela brutal série de penáltis, concretizados pelos nossos melhores e defendidos pelo grande protagonista da noite, Diogo Costa. Três penáltis travados consecutivamente, logo após uma defesa monumental, é uma proeza inacreditável. Estás aflito, Villas-Boas? Pede 100 milhões por ele, que vale o dobro.

Bruno Fernandes tarda em aparecer e Bernardo Silva está longe do seu nível? Isso pouco conta. Cristiano é o alvo, a raiva é o êxito que representa, a inveja manda na gente pequenina. Agora, frustradas, as carpideiras vão arengar para que Roberto Martínez siga o exemplo de Fernando Santos, no Mundial, e deixe o capitão no banco contra a França. Não cometerá o selecionador esse erro. Ao avançar para apontar o primeiro penálti, CR7 mostrou a sua fibra. Já desce a montanha, é verdade, mas a Seleção tem de seguir, como na canção de Fausto, ‘por este rio acima’. Até à final.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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